Reca atende mais de 300 famílias em Nova Califórnia que trabalham com o plantio de mais de 13 espécies nativas
por Sandy Melo
No Distrito de Nova Califórnia, situado a 320 km de Porto Velho, uma iniciativa ganha destaque ao unir a recuperação da floresta tropical com o cultivo sustentável de frutos nativos. A Cooperativa RECA (Recuperação da Amazônia) vem transformando a paisagem e a economia local desde sua fundação, nos anos 80, quando brasileiros de diferentes partes seguiam rumo ao Norte, onde a floresta embala sonhos de um futuro melhor.
Um deles foi o Cemildo, que inicialmente chegou com o objetivo de explorar novas oportunidades, mas acabou se apaixonando pela da Amazônia. Inicialmente dedicado à agricultura tradicional, como o cultivo de arroz e milho, logo percebeu os desafios logísticos, e viu famílias regressar, vencidas pela malária ou pelas dificuldades para produzir e vender numa região então com uma infraestrutura precária.
“Era plantio de milho, arroz, não se vendia, não tinha estrada, então não tinha pra quem vender. Aí foi a necessidade, vendo o agricultor querendo ir embora, aí surgiu a ideia, vamos plantar uma coisa, fazer uma associação, criar alguma coisa. Um grupo de agricultor sentou, pensou e onde começou aprumar a ideia e surgiu o Reca”. Conta Cemildo Kaifer.
A transição para o cultivo de frutos nativos e a adoção de sistemas agroflorestais (SAF) trouxeram novos horizontes para os produtores locais. Sob a liderança de Hamilton, presidente da cooperativa, o projeto busca não apenas promover a recuperação ambiental da região, mas também gerar renda para os agricultores. Hamilton testemunhou de perto a destruição causada pela agricultura e pecuária e agora lidera esforços para restaurar o bioma amazônico.
“Hoje nós temos seguramente mais de mil hectares de sistemas agroflorestais plantados e nós queremos ampliar isso bastante. Tudo que nós plantamos nós conseguimos comercializar, por que nossos produtos têm um apelo socioambiental, são produtos de pequenas famílias de agricultores, onde nós praticamos o reflorestamento tirando uma melhoria e qualidade de vida pro agricultor.”
DADOS
O RECA possui 1.000 hectares implantados de plantio consciente, que equivalem a mais de 1.100 campos de futebol. Além do respeito às origens, eles garantem colheita durante todo o ano.
Se tratando de economia, a produção local anual gira em torno de mil toneladas de polpas, óleos, palmito, amêndoas e sementes. Toda essa produção encontra mercado nas indústrias e revendedores nacionais (São Paulo, Acre, Rondônia e Pará), com destaque a um mecanismo criado pela Natura em conjunto a outros órgãos, que recompensa famílias do Reca pela conservação da floresta. O projeto prevê repasses financeiros anuais por 25 anos.
Nos SAFs do RECA estão consorciadas mais de 40 espécies frutíferas e madeireiras, assim como medicinais. As práticas adotadas diariamente constituem os princípios da agroecologia – cada família possui sua composteira e o manejo das áreas é realizado através dos mutirões, que contam com a contribuição dos membros do grupo da área manejada.
Os resultados das ações desenvolvidas através do RECA, que gira em torno de milhões de reais, comprovam que é economicamente viável conciliar atividades produtivas com a manutenção da floresta em pé, aumentando a geração de renda para famílias da Amazônia.
USINA DE BENEFICIAMENTO E SEUS IMPACTOS
O plantio de árvores nativas e a utilização de matéria orgânica têm reduzido o impacto no solo. Paralelo a isso, as usinas de beneficiamento de polpas de frutas, do palmito de pupunha em conserva e de óleos vegetais geram uma grande quantidade de resíduos orgânicos.
Para reduzir os impactos ambientais, foi implantado pelo RECA um sistema de compostagem, que não só aproveita os resíduos sólidos e dá a eles o destino adequado, mas principalmente oferece como produto final um adubo orgânico de alta qualidade. O adubo é comercializado e utilizado pelos produtores associados.
Genecilda que realiza o plantio de cupuaçu e diversas outras árvores nativas, conta que seu maior sustento vem da produção e venda. Ela ainda relata que cada parte do fruto é utilizada de alguma forma.
“A gente manda o fruto, daí eles fazem o despovoamento e da casca eles fazem o adubo. Aí a gente compra o adubo deles com um preço acessível e fazemos novamente o plantio” conta Genecilda.
RECA E O FUTURO
Com o apoio da Cooperativa RECA, os produtores associados não apenas encontraram uma fonte de renda sustentável, mas também se tornaram guardiões da floresta, contribuindo para a preservação do maior patrimônio natural do Brasil e deixando frutos na terra e na vida de muitas famílias.
“ Eu quero que eles continuem, não abandonem, eu tenho duas filhas que tem os seus próprios sítios. Os outros jovens também, quero que eles entendam que não é só derrubar”, disse Cemildo Kaifer, vice-presidente RECA.
“A minha área 60% tá em pé de área de floresta, e hoje além da conscientização por parte do Ibama a gente preza pelo que a gente vai deixar para o futuro. Minha filha, mesmo pequena já entende que não pode destruir a natureza porque sabe que isso pode influenciar o futuro dela”. Genecilda Maia, Cooperada Reca.
Texto: Sandy Melo
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